
Irá a Senhora da Graça parir um rato ou virar a classificação?
A Senhora da Graça, em Mondim de Basto, onde hoje termina a quarta etapa da Volta a Portugal é um local único do ciclismo português. Criou-se em torno do monte Farinha uma aura de certo modo mítica, de tal maneira que é, provavelmente, o local de maior romaria popular de toda a prova.
O estatuto da subida mondinense é de tal maneira especial que chega para colocar em causa princípios tidos como verdades absolutas do ciclismo. Por exemplo, todos aceitam que a maior ou menor dificuldade das corridas é feita pelos ciclistas. No entanto, diz-se que, depois da renovação do piso, a escalada à Senhora da Graça já não produz diferenças significativas.
A verdade é que os números mostram, a cada ano que passa, margens pequenas entre candidatos ao triunfo. O que os números não dizem é que a subida logo no primeiro fim de semana, com reservas de energia ainda substanciais, é diferente de uma hipotética chegada na fase final e decisiva da Volta. Por outro lado, fazendo-se a etapa de Mondim no começo da Volta, a maior parte das equipas tem assumido que se trata apenas do primeiro teste, para ver quem se aguenta entre os melhores e não para cavar distâncias significativas.
Hoje voltamos a ter a Senhora da Graça na primeira metade da Volta a Portugal. Acontece que não haverá, para os trepadores, uma segunda oportunidade para criar uma primeira boa impressão. Ao contrário dos últimos anos, não existe chegada no alto da Torre. A bem do espectáculo, que todos desejamos entusiasmante, esperamos que as equipas mais apetrechadas para a montanha tenham isso em conta, atacando desde a base do monte Farinha ou mesmo no Alvão. Só dessa forma poderão ser estabelecidas diferenças que deixem os contrarrelogistas em estado de alerta e a classificação da Volta potencialmente em aberto até às últimas pedaladas.
Se a configuração da corrida for a dos anos anteriores, o mais certo é fiquemos todos com a ideia de que a montanha pariu um rato. Foi o que sucedeu em três das últimas cinco edições: aquele que viria a sagrar-se vencedor da Volta chegou ao alto da Senhora da Graça com o mesmo tempo do vencedor da etapa; foi o caso de Gustavo César Veloso, em 2014 e em 2015, e de Ricardo Mestre, em 2011.
Nos últimos cinco anos, nunca o vencedor da Volta a Portugal triunfou na Senhora da Graça, mas apenas o dono da Volta de 2013, Alejandro Marque, cedeu algum terreno na tirada de Basto: perdeu 29 segundos para o primeiro a cruzar a meta, Sergio Pardilla.
Posição dos cinco primeiros da geral final Volta na etapa da Senhora da Graça
2015
Vencedor da etapa: Filipe Cardoso
Gustavo César Veloso: 3.º, mesmo tempo do vencedor de etapa
Joni Brandão: 2.º, mesmo tempo do vencedor da etapa
Alejandro Marque: 6.º, a 8s
Delio Fernández: 5.º, a 4s
Rui Sousa: 12.º, a 30s
2014
Vencedor da Etapa: Edgar Pinto
Gustavo César Veloso: 2.º, mesmo tempo do vencedor
Rui Sousa: 10.º, a 16s
Delio Fernández: 4.º, a 8s
Joni Brandão: 3.º, a 8s
Edgar Pinto: 1.º
2013
Vencedor da Etapa: Sergio Pardilla
Alejandro Marque: 9.º, a 29s
Gustavo César Veloso: 4.º, a 12s
Rui Sousa: 3.º a 7s
Edgar Pinto: 2.º, a 7s
Hernâni Broco: 5.º, a 18s
2012
Vencedor da Etapa: Rui Sousa
David Blanco: 2.º, a 3s
Hugo Sabido: 4.º, a 3s
Rui Sousa: 1.º
Daniel Silva: 9.º, a 27s
David de la Cruz: 3.º, a 3s
2011
Vencedor da Etapa: Hernâni Broco
Ricardo Mestre: 2.º. mesmo tempo do vencedor
André Cardoso: 3.º, a 6s
Rui Sousa, 12.º a 28s
Nelson Vitorino, 5.º, a 6s
Hernâni Broco: 1.º
2016-07-31 - 11:32:40